Thursday, April 08, 2021
FASCISMO - decalques históricos no inconsciente coletivo
A implantação --- ou tentativa de implantação --- de um regime chamado fascista num país implicita a pré-existência ali de algumas condições que fazem aflorar e reunir seus adeptos por considerarem que o país entrou em crise econômica e política e o governo corrente perdeu o controle da situação, daí resultando real ou potencial prejuízo aos empresários e negócios ali estabelecidos.
Os adeptos de um poder fascista são em geral elementos politizados que vêem um país como um Estado forte que opere com uma eficiência mecânica em prol do enriquecimento dos investimentos ali realizados e como um lugar onde o trabalhador seja apenas um executor do trabalho a ele atribuído, com produtividade máxima, seguindo as diretrizes traçadas, sem questionar as ordens recebidas e portanto sem incomodar a ordem dominante. Entre eles banqueiros, industriais, comerciantes, prestadores de serviços, profissionais liberais, militares, cidadãos comuns, mas os que aparecem mesmo perante o público, porque são os que se manifestam para os veículos de comunicação, são seus representantes políticos nas assembleias municipais, câmaras estaduais e no senado.
A lógica desses adeptos vem-se desenvolvendo desde que o ser humano começou a organizar-se, desde que os territórios e populações começaram a expandir e dar início às necessárias subdivisões para controle de seus estoques de recursos.
A preservação do "trabalhador autômato" tem seu exemplo contemporâneo mais recente e politicamente mais significativo no regime (assim chamado) democrático do Estados Unidos da América, onde o Senado, representando os estados da federação, e portanto os grandes proprietários e latifundiários, foi criado precisamente para dar a estes ascendência sobre o pequeno proprietário, e por extensão ao trabalhador e à população de um modo geral, estes representados pela Câmara dos Deputados. Os fundadores do Estados Unidos decidiram que, se a Câmara legislasse sozinha, o país estaria abandonado ao governo de pessoas que pouco ou nenhum patrimônio tinham investido no país, o que seria um grande risco. [Risco iminente de perda de poder; risco iminente de outrem no poder.]
E a culminação politicamente mais significativa da desconsideração do trabalho como criador de valor ocorre em torno de 1870, ano da unificação da Alemanha, sobretudo na Áustria, com a criação da Teoria Marginalista desenvolvida por Carl Menger, Friedrich von Wieser e Eugen von Böhn-Bawerk, uma doutrina que então foi revolucionária por afirmar que a Economia deveria partir da análise das necessidades humanas e dos meios disponíveis aos humanos para satisfazê-las, mas que "o trabalho, uma vez feito, não tem influência alguma sobre o valor futuro de um artigo, porque está feito e perdido para sempre."
E o pleito da concentração de um país dentro e para si mesmo, dentro dos tradicionais valores monárquicos e dinásticos que os constituíram, teve na doutrina nazista, matriz da recente tentativa de introversão do governo Trump no Estados Unidos e do governo Messias Bolsonero no Brasil, sua máxima expressão política, porque o nazismo exaltava a comunidade" tradicional e "orgânica" em contraposição à "sociedade" composta de indivíduos alienados, produto da "democracia" capitalista. O Estado autoritário era a única forma de proteger a "cultura" germânica contra a decadente "civilização" ocidental. Afinal, o progresso desinternaliza as pessoas, homogeneizando-as e expondo-as portanto a influências exógenas, descaracterizando e afastando-a de sua origem, de sua identidade.
É preciso ter em mente que os grandes negociantes de hoje --- banqueiros, mercadores, fabricantes e outros --- são bonitos no papel, nas leis, contratos e folhetos de propaganda que os registram com expressões formais, solenes e benignas como "empresários", porque, no fundo, todos vêm da Idade Média, onde eram "piratas medievais" e continuam sendo hoje, e, se deixarem, tomam tudo de todos, causam danos a tudo e a todos, inclusive, a médio e longo prazos --- porque também são seres humanos --- a si mesmos, o que prova sua mais absoluta incompetência e insanidade mental. Essa linha evolutiva já está pra lá de caduca.