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Saturday, February 01, 2025

ENTORPECENTE IGREJA CATÓLICA

Sem querer beneficiar politica ou religiosamente a igreja evangélica, por ter ela se transformado em símbolo do hiper-reacionário e incompetente Jair Messias e sua turba, e por isso seja problemático, numa América Latina com eleitores católicos que montam a quase 100% da população, acusar sua principal oponente política, a pretensiosa Igreja Católica —garantidora do poder da direita no Brasil e América Latina— com todo o peso que ela despeja em cima dos fiéis para entorpecê-los, de ser a total responsável ideológica pelo voto dos pobres na direita.    

     Responsabilizo a Igreja Católica por esse voto na direita que tanto mal causa aos pobres e à nação em gera porque, afinal, para almejarem o acesso ao reino dos céus, há quase dois mil anos ela manda os fiéis renunciarem aos bens terrenos; resignarem-se à pobreza; amarem os representantes da ordem dominante, ou seja, Deus sobre todas as coisas e pai e mãe na Terra; mais, mandando-os não roubar e não matar, retira deles toda possibilidade de se apropriarem à força de seu quinhão da riqueza que produzem para os donos do mundo, e, em vez disso, manda-os cumprirem penitências para pagarem os erros dos mandatários. E ainda por cima é uma igreja anti-socialista, anti-comunista, que o digam Peppone e Don Camilo e os Banqueiros de Deus!     

     Acatar sempre, atacar  jamais, ela comanda,  provendo a população com máxima vaselina para não incomodar os donos do mundo, que a retribuem com vultosos donativos.


CRISTO, DEUS E KARL MARX

Lá pelos anos 30, Cristo, o homem que deu nome a esta nossa era percebeu, pela primeira vez na história, que havia nesta Terra gente sem recursos, que sentia frio e fome e mal tinha onde morar, e começou a exigir por e para eles a atenção dos abastados senhores governantes e mercadores, pedindo que fossem generosos e distribuessem um pouco de suas riquezas para os pobres. Durante suas andanças anteriores conversara com muita gente de saber, tornara-se um místico, passara a acreditar que haveria no céu um lugar para aquelas almas após a morte.  

       Chamou aquele lugar de Reino de Deus mas, entusiasmando-se cada vez mais, chamou-se filho de Deus. A partir daí seus missionários começaram a dividir-se, alegando alguns que a pretensão de ser filho de Deus turvava a verdade daquele movimento humanista. O Império Romano, que ocupava a região na época, começou a questionar os governantes locais sobre quem era aquele homem, chefe de um movimento, que ousava chamar-se rei. 

     A elite local, como sempre interessada em manter-se na alta estima  dos dominantes para continuar usufruindo dos negócios conjuntos, pôs-se a investigar e pressionar. Mas o homem, tão tomado estava por sua especulação  que, em vez de tentar explicar que aquele Reino dos Céus onde havia um rei era uma fantasia mística , uma criação da mente continuou a afirmar sua existência e a chamar-se rei, sendo enfim por isso foi crucificado pelos romanos, que só admitiam na Terra um único rei, César, Imperador dos romanos.

     O destino já era "irônico" naquela época. Aquele movimento gerara uma crença —Cristianismo— que foi tomando corpo até, três séculos mais tarde, já uma  igreja estruturada, ser adotada pelo próprio Império Romano como religião oficial. 

     A Igreja Católica Apostólica Romana convinha aos romanos. Roma estava praticamente às moscas, solo seco sem plantio, sem colheita, os negócios parados. O único deus da nova religião simplificava muito a vida do Império, ao contrário das inúmeras divindades antes reinantes entre o povo, que exigia do Imperador atender a tantas e a ofertar quantos sacrifícios. Vinham a calhar a exigência aos fiéis de renunciarem aos bens terrenos para almejarem o reino dos céus, a resignação à miséria, pois a riqueza terrena não tinha espaço no reino dos céus, e a penitência dos fiéis pelos erros do mundo desonerava os governantes e as elites.

     Karl Marx, rememorando tudo isso 1800 anos depois, afirmou que a religião era mesmo o ópio do povo. Pois Cristo não tinha como saber, em sua época, que a caridade apenas adiaria a solução da miséria, porque as elites econômicas continuariam existindo e acumulando toda a riqueza produzida, e era essa apropriação indébita de toda a riqueza —em vez de distribui-la também aos trabalhadores que a produziam— a genuína causa da miséria humana.


Thursday, January 09, 2025

 PLANO DE ATUAÇÃO POLÍTICA - PAPO

(1) Deixar de combater apenas os sintomas das contradições. Hoje a causa dos problemas não é investigada, mas apenas seus sintomas, que são, entre tantos, as mortes por assaltos sobrevivenciais, a violência doméstica, as extorsões, chantagens e todos os demais.

(2) A causa da contradição econômica é a apropriação de quase toda a riqueza produzida pelos proprietários dos negócios, garantida pelo sistema capitalista de produção. Solução: extinguir o capitalismo, implantar o socialismo, regime em que a propriedade dos meios de produção é pública. “Socialismo é prosperidade.”, ouvi no ar.

(2.1) A semelhança de capitalismo e câncer é notória. Ambos expandem e destroem tudo onde chegam, inclusive os corpos que os hospedam. O corpo que hospeda todos os seres humanos é o próprio Planeta Terra, em franco e incontido processo de destruição.

(2.2) O capitalismo incentiva o acúmulo de capital e, para estimular os seres humanos à ascensão por meio do trabalho remunerado, a competição entre todos, jogando todos os seres humanos uns contra os outros. "Cada um por si e Deus contra todos", proclamou Werner Herzog.

(3) A causa do sexismo são os dogmas de fé religiosos impostos pela Igreja Católica Apostólica Romana desde sua origem. Solução: remover os dogmas religiosos desta e das demais igrejas que a reformaram nos adornos mas não no cerne.

(3.1) Supremacia do homem sobre a mulher. 

(3.1.1) A Igreja Católica ofertou a mulher ao homem, para servi-lo quando o homem quiser, se quiser. A mulher não pode externar sua sensualidade para a sociedade, pois é propriedade de seu "esposo". Este dogma, somado à moderna "execução sumária" praticada pelo "crime organizado" e amplamente divulgada por toda a mídia é a causa das execuções sumárias atuais entre os casais jovens, pois "resolver" os ciúmes deixou de interessar ao sexo masculino. Causar uma situação que gere ciúmes já é por si só uma enorme traição.

(3.2) Supremacia do heterossexualismo sobre o homossexualismo.

(3.2.1) O homossexual e o travesti são compelidos, por necessidade de atender ao "mercado consumidor de humanos", a modificar seus hormônios e o aspecto externo de seus corpos. Podem e devem abolir tais modificações, mantendo em função todos os hormônios internos, o que lhes dará uma atuação física diferenciada e uma  inteligência tripla em relação à inteligência una do heterossexual. Deve ser esta movimentação simultânea dos dois hormônios sexuais opostos no organismo que dá ao homossexual, já hoje e desde um século ou mais, a fama de ser muito inteligente.

(3.3) Supremacia do sofrimento físico e mental sobre o desfrute da fartura (inexistente para o não-privilegiado), da natureza, da prática sexual e da sexualidade. A manifestação do desejo sexual —o popular tesão— deve ser motivo de vergonha e auto-punição para todo ser humano, porque a Igreja Católica inventou e impôs, como verdade humana, o dogma de que a prática sexual só pode existir para fins reprodutórios. Com esta invenção e imposição a Igreja apagou da história humana a sexualidade e sobretudo a homossexualidade, já que homossexuais não reproduzem.

(3.3.1) A proibição do sexo foi criada pela invenção do "pecado original" do nascimento, originário de uma relação sexual, que nasceu da desobediência de Adão e Eva à ordem de Deus para  não comerem o fruto da macieira, a maçã, resultando para o casal na expulsão do Paraíso. Ao ser admitida na corte do Império Romano, recebendo a incumbência de cuidar da alma humana, a Igreja Católica começou a inventar o ser humano ideal e conveniente a Roma. A mente que “ostentamos” hoje foi inventada naquele instante e moldada a partir dali, cumprindo à risca os dez mandamentos, entre outros “amar a Deus sobre todas as coisas, honrar pai e mãe, não cobiçar a mulher do próximo, não roubar, não matar” e outras boas condutas para não incomodar os imperadores e dirigentes romanos, pôr ordem na cada e resolver a economia romana.  Nossos valores foram todos forjados ali, reinventados ali, pois a Igreja Católica jogou fora a história e evolução humanas e inventou um ser humano novo, com o perigoso e danoso efeito de apresentar os novos valores, não como uma adaptação à realidade do momento, mas como “a eterna verdade natural do ser humano”. Ameaçando-o de punição, de condenação ao inferno, criou para si o necessário carisma para exercer seu mandato sem ser importunada. O medo da punição e condenação vige até hoje, século 21.


Saturday, October 05, 2024

 1    NOSSA CIVILIZAÇÃO NÃO DEU CERTO !

 Os ideais não estão necessariamente errados, mas  são mera poesia em nossa civilização porque desprezam a natureza e as características e necessidades naturais humanas, servindo apenas para regulamentar o comportamento humano em benefício dos dominantes, que oprimem e reprimem para se manterem no poder instituindo leis e atitudes policiais contra a imensa maioria da população não-atendida pela estrutura socioeconômica. 

O que se quer nem sempre se precisa; mesmo quando o objeto das duas ações coincide, nem sempre se pode realizá-las. Mao Tsé-Tung pregava "o possível e o necessário". O "eu quero", próprio da infância no regime de produção capitalista, é compulsória afirmação individual, necessidade criada e incentivada para gerar a competição entre todos os seres humanos. Um contra um ou, segundo Werner Herzog, “Cada um por si e Deus contra todos”.

 

Ouvi dizer um dia um músico negro estadunidense: “Nada tenho contra os sonhos; só que antes de realizá-los é preciso acordar!” [Ouvi essa frase num vídeo sobre a história da música negra nos Estados Unidos, que assisti no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, lá por volta de 2005, mas esqueci de anotar o nome do músico e o título do vídeo.]

 

Em administração de empresas, quando é muito grande a quantidade de erros no curso de um processo industrial, comercial ou administrativo, diagnosticamos que o erro não é dos operadores humanos, mas do processo em si. 

Em relação ao esperado cumprimento dos vários códigos de conduta traçados para as várias atividades humanas nessa civilização, nossos olhos, todos os nossos sentidos e a imprensa falada, escrita e televisada comprovam que é enorme a quantidade de transgressões funcionais nesse regime capitalista em que vivemos e cujas premissas estão socadas no fundo de nosso cérebro pela opressão e repressão praticadas pelos donos do mundo e seu luxuoso e imprescindível ajudante enganador, as religiões. Nossas religiões nada tem de espiritualidade, são meras proibições e dogmas de fé, todas culpam o ser humano e condenam-no a obedecer e sofrer, e por isso podemos chamar essa nossa era de “mórbido apogeu” ou “mórbida apoteose”, “agonia apoteótica” até.

O pior dessas premissas no fundo do nosso cérebro é que elas, em vez de serem socadas como são, isto é, como condutas “sociais” e “conjunturais”, são socadas como verdades “naturais”, gerando no ser humano muitas carências, vergonhas e culpas.

Esse resultado mórbido não foi premeditado, as decisões foram tomadas e os atos executados para solucionar as dificuldades do dia-a-dia. As tribos foram procriando, aumentando, os territórios foram expandindo. As tribos foram se dividindo em regiões, em cada região nasceu um viveiro de bois, ovelhas e alimentos. A necessidade de controlar e administrar o conjunto dos viveiros e de reunir contingentes humanos para as guerras criou o Estado. A propriedade privada nasceu do distanciamento cada vez maior entre os viveiros, porque o pastor, cada vez mais especializado, cada vez mais longe do núcleo de sua tribo e assim, nas fronteiras, cada vez mais misturado a gente de outras tribos, passou a ser, não mais o almoxarife de uma tribo específica, mas o mero responsável pelo rebanho no cercado. Entre tantos cercados, cada um originalmente de uma tribo diferente, os responsáveis começaram a trocar diretamente uns com os outros. Longe de seus núcleos, longe da taba da tribo original, os pastores passaram a trazer mulheres para conviver. As mulheres começaram a gerar filhos. A família, como a concebemos hoje, nasceu quando a linhagem dos filhos passou da mãe para o pai, porque o pai precisava saber, por questões de sucessão, quem eram os seus filhos.

Nessa evolução, a incapacidade humana de prever a longo prazo o resultado de nossas decisões e atos, ainda que satisfatório para solucionar uma necessidade ou um problema circunstancial corrente, é a grande responsável pelo fiasco de nossa civilização. Quem diria de antemão, por exemplo, que a primeira fumaça exalada para a atmosfera de uma chaminé rudimentar na Inglaterra nos meados do século 19, logo após a descoberta da máquina a vapor, iria um século depois começar a aquecer o ar a ponto de furar a camada de ozônio que protege do sol o nosso planeta, deixando entrar os raios ultravioletas, superaquecendo nosso planeta? Não só a superaquecer, como também a contaminar a atmosfera. E, muito antes, desde o início deste planeta, quem diria que os gases intestinais dos bovinos, e dos nossos também, iriam esquentar o mundo.

Nossa ciência estuda os fenômenos à medida que vão acontecendo, quando um desastre ambiental ou social ocorre já é tarde demais.

A contradição é tanta que o sistema econômico resultante dessa evolução se beneficia dos estragos que ele mesmo causa ao planeta. Por que? Porque as atividades de reparos no planeta, até então inexistentes, contratam trabalho adicional, os salários pagos geram consumo adicional, o PIB e a Renda Nacional aumentam.

Fatalidade. Hoje em dia, todos os processos de cultivo e produção em larga escala, em todos os campos e indústrias, sujam e envenenam a Natureza: solo, subsolo, águas, vegetação, florestas, atmosfera, seres humanos e animais.

Este dano, somado à incapacidade de o ser humano prever a prazo muito longo —só conhecemos os danos depois que acontecem— incrimina o dono do mundo, desqualifica-o para ser cacique. Se somarmos aos campos e indústrias danosas, e dolosas muitas, os bancos e investidores que as financiam e os empregados que reproduzem este sistema de produção e seus valores, concluímos, obviamente, que nenhum dono do mundo pode ser cacique.

O cacique zela pela tribo e pelo território, seu habitat; é aclamado pela tribo.

Adiante, na época dos reis e castelos, os reis, impondo-se como “enviados de Deus para conduzir o povo”, herdaram essa “aclamação”, herdaram do povo crédulo o respeito e a reverência àqueles que também se dizem “representantes da nação”, fama de que também se beneficiam, hoje em dia, os que se dizem donos do mundo e seus representantes.

A punição individual e o tratamento dos sintomas são outros dois “costumes” sociais que impedem a sociedade, por conveniência do regime capitalista, de solucionar seus problemas. Punindo o indivíduo, a sociedade dá o problema por encerrado; o indivíduo é preso, mas a estrutura da sociedade não é atacada, o problema não é sequer abordado, e muito menos solucionado. Como as causas não são extirpadas, o tratamento dos sintomas adquire status de realização dos governos. Quantas vezes vemos na TV, procurando de um canal a outro algum programa interessante, tantos grupos de três, quatro, cinco pessoas discutindo questões como direitos humanos, estatuto da criança e do adolescente, estatuto do idoso, lei Maria da Penha, violência contra a mulher, diversidade sexual e tantos mais— que são meros sintomas de causas muito mais profundas introjetadas, socadas a pilão desde a infância em nosso inconsciente coletivo. 

Pois é. Não bastasse nosso sistema econômico empenado, que entortou e foi entortando cada vez mais por beneficiar os donos das coisas, que são cada vez menos e vão enriquecendo cada vez mais, e desprezar quem as faz e repara todas, que são cada vez mais e vão ganhando cada vez menos, ainda por cima surgiu há dois mil anos uma tal religião que desprezou toda a evolução anterior dos seres humanos e animais do planeta e do planeta em si e inventou e impôs uma lenda de que existiu um criador do mundo, um deus único que nos impõe proibições e dogmas de fé, inclusive a culpa e o pagamento dos “pecados do mundo”, que devemos obedecer e acreditar — isto é, punindo os não-privilegiados pela acumulação de riqueza dos privilegiados que empenou o nosso destino!

A Igreja Católica puniu até o sexo: nascemos com o “pecado original” porque nossos pais praticaram sexo para nascermos. E exterminou a sexualidade humana: só é permitido praticar sexo para fins reprodutórios. 

As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe assim, ao mesmo tempo, dos meios para a produção espiritual... (Karl Marx e Friedrich Engels, “A Ideologia Alemã, Ed. Expressão Popular, 2009)

 

Até então as divindades eram muitas, lendas por nós humanos criadas, cultivadas e cultuadas para preencher nossa desconhecida relação com a natureza e toda a história humana. Pois a espiritualidade é a relação dos seres humanos com os fenômenos da natureza, entre si e com os animais, os objetos e tudo o mais que encontramos, é um estado sensorial, um sentimento em princípio sem explicação. A brisa, o vento, o rio, o riacho, a lua, o luar, o sol, a seca, a colheita, a chuva, cada fenômeno gera em cada ser humano sensações de simpatia, medo, admiração, dúvida, etc.

O fato de todos os fenômenos da Natureza terem dois lados, um positivo, outro negativo, um que constrói outro que destrói, pode explicar a dualidade dos nossos valores, pode explicar nossa facilidade em cair na conversa do que nossa civilização chama de bem e mal, deus e diabo. O sol que energiza o cultivo e a colheita dos alimentos é o mesmo que, em outra época, resseca e queima o solo e a plantação; as águas que descem do céu e irrigam são as mesmas que inundam e desmoronam tudo, e assim por diante.

O sol de ressecar e a chuva de inundar amiúde resultavam da ira de Deus, que assim pune quem mora em lugar pobre, a morada dos que fazem e consertam todas as coisas na Terra, a morada de quem gosta de viver, de confraternizar, de quem extrai o máximo do mínimo e cria as artes, o bom humor, a camaradagem e a alegria de viver.

Uma religião repleta de dogmas de fé e proibições nada tem a ver com o espírito, mas a religião católica apostólica romana inventou a lenda do tal deus único e, ainda por cima, impôs que adorá-lo significava a nossa espiritualidade. E o Estado Romano — convenientemente e conforme,  depois de adotar o Cristianismo como religião oficial e convidar a Igreja a fazer parte da Corte, começou a tratar como crime todos os “pecados” inventados pela religião empossada. Afinal, o tal deus, além de substituir todas as demais divindades anteriores com suas tantas influências sobre o povo, mandava seus fiéis renunciarem aos bens materiais em troca de uma vida paradisíaca após a morte. 

Egito Antigo, ca. 1580 aC. - Amenófis IV, com o objetivo político de diminuir o poder sacerdotal que ameaçava o poder do faraó, unificou todos os deuses, unificação simbolizada pelo disco solar – Aton.

 

O bem obedece ao dono do mundo, o mal desobece. A Natureza é dual, constrói e destrói, mas as moradas dos donos do mundo são inatacáveis. Os donos do mundo não pagam os pecados que os demais pagam, nem mesmo os estragos que causam com suas indústrias e dejetos ao Planeta. Para esses a Igreja no passado vendeu muito ingresso para o céu, o tal “carnê indulgência”, e desses recebe hoje, em troca de manter os seres humanos resignados com seu sofrimento e sua renúncia aos bens terrenos, obesas contribuições. Mas essa renúncia valeu e ainda vale para os fiéis, mas nunca valeu para a própria Igreja, que é hoje a maior proprietária de imóveis deste mundo. Ai do fiel que não renunciar! Vai para o Inferno, um lugar com labaredas, muito mais desagradável que o verão mais quente da Terra.

A Igreja Católica, não renunciando aos bens terrenos, desobedeceu seu requisito básico para ir para o céu; contraditória na própria doutrina, vai para o Inferno.

A Igreja Católica criou os mandamentos: não roubar e não matar passaram a ser proibidos, apesar de ter sido exatamente assim, saqueando e matando, que quem está hoje no poder se estabeleceu no passado e ascendeu ao poder. contraditória na própria doutrina, vai para o Inferno.

Da violência aplicada contra a população, mais propriamente do medo de ser punido, foram nascendo entre o povo, um a um, os preconceitos.

O câncer é uma doença que se desenvolve, a partir de um corpo ou fenômeno estranho ao organismo, em tecido saudável e o destrói, utilizando-o para expandir-se e enfim tomá-lo todo, destruindo-o. Qualquer semelhança com o regime de produção capitalista ¿será mera coincidência?

Some-se o estímulo capitalista ao individualismo, ao sucesso individual, que lança  os seres humanos em acirrada disputa um contra o outro em casa, no trabalho, em todo lugar, de tal modo que, como o individualismo tende a um, daqui a uma centena de anos — tanto assim? — teremos um único ser sobrevivente no planeta a berrar sua vitória e bater no peito, de frente para o sol, para os ares... se ainda existir ar. 

T.S.Elliot:

"This is the way the world ends. ... Not with a bang but a whimper."

 (Minha tradução livre:... É assim que o mundo acaba. / Não com um gongo, mas com um gemido.)

(Minha paródia: ...Não com uma ruidosa explosão de calor, mas com um chorado gemido de dor.)

 

Dolosa a Igreja Católica, e suas seguidoras e adeptas, criminosa mesmo, por ter inibido e reprimido a sexualidade humana, para ela poder praticar sexo à vontade nas clausuras dos colégios católicos e nos conventos e seminários . Dolosa e criminosa por ter inibido e sufocado a necessidade de o ser humano ter um lugar para morar e plantar. Afinal ela queria para si todas as terras, que o diga o patrimônio do Vaticano.

Ora, se ela reprime a sexualidade humana, impedindo que o ser humano relaxe para dedicar toda sua energia ao trabalho alienado, e se ela manda os seres humanos renunciarem aos bens materiais para ela e os donos do mundo se apropriarem de toda a riqueza, não é à toa que os donos do mundo a gratifiquem com tão obesos donativos! Os donos do mundo são, como na TV, os patrocinadores da Igreja Católica. Na Idade Média eram os castelos, os reis. Os fiéis são os consumidores dos serviços eclesiásticos.

 

A Igreja Católica inventou Deus para tomar dos dois lados: dos pobres, cobrando emolumentos nas missas, batizados, primeiras-comunhões, crismas, casamentos, enterros, etc., onde puder; obrigando-os, por ter inibido e reprimido a sexualidade humana, a terem que canalizar toda a energia sexual para sobreviver do trabalho alienado; explorando-os como colonos nos feudos da Europa, cobrando deles taxas de arrendamento altíssimas para roçarem as imensas terras que ela ganhou dos castelos dos reis [inclusive no Brasil, onde é sócia de estados e municípios em vários pontos do país, recebendo por isso uma alta taxa, chamada laudêmio, nas vendas de imóveis ali realizadas]. Esse preço tão alto é o preço que todos pagamos para aderir ao jamais comprovado Plano Moradia que ela oferece no Além... Coisa de 171!

 

Houve na União Soviética, a partir de 1917, um regime socialista de produção, que no confronto direto com o sistema capitalista do Ocidente veio enfim a soçobrar em 1991.

O socialismo não teve vida longa porque nele o Estado não arrecada impostos sobre o lucro agregado a cada etapa da produção e distribuição, ao contrário do sistema capitalista. No capitalismo, a cada estágio da produção um imposto é cobrado sobre o lucro: o Estado arrecada. Aquele produto segue adiante, é acoplado a outro —que também já pagou imposto— formando um terceiro. Este terceiro, encaminhado à etapa seguinte, recolhe seu quinhão.

Como o Estado  não arrecada no socialismo, toda expansão tem que valer-se apenas do aumento da quantidade de trabalho humano aplicada aos vários segmentos da indústria. Na União Soviética, esse aumento de trabalho humano teve infelizmente que dedicar-se ao necessário aumento da indústria de guerra defensiva para fazer face à enorme ameaça da riquíssima e poderosíssima indústria bélica do Ocidente, ocupando trabalho que deveria estar sendo aplicado à produção das necessidades básicas da população.

Exemplo contundente desse exaustivo esforço interno foi a criação na União Soviética de uma Academia de Ciências que causou inveja e temor ao Estados Unidos, ao ponto de acirrar e manter sempre crescente a então chamada “Guerra Fria” entre os mundos capitalista e comunista.

Esse tal desvio do trabalho humano para atender a necessidades não populares, mas apenas às estatais institucionais, foi o que inviabilizou o sistema socialista de produção. As filas para compra de alimentos, fogão, geladeira, margarina e outros artigos básicos não pararam de aumentar, o sistema socialista cerrou suas portas.

Ficou claro para o mundo que não há convívio possível entre um sistema socialista de massas e um sistema capitalista de produção. Lenin já sabia disto. 

E assim, aos trancos e barrancos, vamos evoluindo, e hoje, 2022, aturar a ideologia dominante tornou-se uma reles patologia mórbida — a  “cristocapitalose”. Os donos do mundo e seus prepostos, que perfazem uns 20% da população do planeta, precisam montar e manter uma estrutura policial beligerante e punitiva contra o risco de serem perturbados pela ação dos dominados insubmissos que vivem por mero instinto de sobrevivência, daqueles para quem viver é atividade de alto risco, de risco 100%.  

Para isto não há cura ou correção, a história prova que, quanto mais aumenta a repressão e o aparato policial, mais aumenta a pobreza e maior e mais forte é a reação dos oprimidos: a proação contra as pessoas às quais possam ter acesso a baixo risco. Sem resgatar a fartura da natureza para todos os seres humanos, sem resgatar as características e necessidades naturais do ser humano, será impossível atenuar e extinguir esse confronto. 

Na era feudal, na maioria dos castelos, em geral somente o primogênito herdava o patrimônio do pai. Os demais tinham que conquistar cada um seu próprio patrimônio, o que faziam montando exércitos e invadindo outras terras e domínios. Hoje em dia (2022), a situação dos não-primogênitos equivale à ação dos não-privilegiados com patrimônio de berço, que montam seus esquemas extralegais de arrecadação e conquista.

A atividade de pilhagem e conquista dos castelos foi financiada geralmente pela Igreja Católica Romana até que, emprestando a juros muito inferiores aos dela, os judeus entraram no mercado de emprestar dinheiro, sendo por isso punidos por ela com fartos preconceitos e torturas das inquisições.

 

As leis e costumes marginalizam cada vez mais os que não tem patrimônio, e suas iniciativas marginais de sobrevivência são cada vez mais reprimidas. Quanto mais a riqueza do mundo se concentra em uns poucos indivíduos, tanto mais aumenta a força repressora, tanto mais aumentam as iniciativas a base do instinto de sobrevivência.

Para criar uma nova sociedade será preciso dialogar com essas forças da sobrevivência, descobrir com elas uma forma de colocá-las em jogo. Não podemos culpá-las por quererem —assim como muitos cidadãos “do bem” que preferem, “para não ter patrão”, empreender negócios próprios— viver insubmissas.

Por esse motivo, essa nossa civilização, do jeito que está, não deu e não dará certo!

Tanto mais porque a desigualdade econômica de fato cria seres “melhores” e “piores”, uma conclusão chocante, de tão cruel, que, se vista com olhos da direita, poderia justificar a alegação do escritor inglês Houston Stewart Chamberlain, supremacista autor de "Fundamentos do Século XX", que pregava a supremacia dos “arianos” (nome usado indevidamente) sobre os demais povos e afirmava que “a pobreza dos homens era prova da existência de uma inferioridade racial, e por isso os homens pobres deveriam ser esterilizados ou escravizados”.

Poderia justificar, mas não justifica, porque a desigualdade biológica é causada pela desigualdade social, não o contrário.

As mulheres grávidas ricas e as com suficiente poder aquisitivo podem alimentar-se e a seus embriões na placenta com qualidade máxima, enquanto as não-privilegiadas tem que restringir-se ao pouco que recebem para sobreviver, gerando nos embriões insuficiências de nutrientes e vitaminas e, nos nascidos, consequentes circuitos não tão bem acabados.

Ainda, durante a infância, os filhos das primeiras não precisam fazer esforço físico pesado que lhes estanque o desenvolvimento do cérebro, enquanto os das não-privilegiadas em geral acabam iniciando-se cedo na “carga pesada”. Por isso a lei proíbe o trabalho infantil.

A diferença é atenuada, e passa despercebida, porque o sistema capitalista não exige muita inteligência dos seres humanos, não precisamos usar mais que 10% de nossa capacidade cerebral para operá-lo. Mas a cruel influência da desigualdade econômica sobre a desigualdade biológica nos mostra que a desigualdade econômica criada pelo modo capitalista em que vivemos não é só “para inglês ver”: o modo capitalista de produção, além de matematicamente inviável —porque produz muita riqueza, cada vez maior, para uma pequeníssima quantidade, cada vez menor, de pessoas, enquanto, no outro extremo, produz uma pobreza cada vez maior para uma quantidade maior de gente— é inviável também biologicamente.

A desigualdade, hoje, começa na placenta das mães.

E a prática da vida a consolida:

(1) Quanto mais dinheiro uma pessoa tem, tanto mais barata a vida lhe sai, porque pode comprar mercadorias a preços bem mais baratos, porque pode comprar muitas e gozar dos descontos máximos. Os supermercados mais baratos estão localizados nos bairros mais ricos.

(2) Quanto mais dinheiro uma pessoa tem, tanto mais pode blefar, porque pode arriscar: pode apostar alto numa mão ruim porque o pobre não pode pagar para ver.

(3) Para ser pobre é preciso ter dinheiro no bolso. Quem tem no mínimo algum, não precisa andar com dinheiro no bolso porque pode pagar as compras com cartões de débito e crédito. O pobre não tem nem um nem outro, tem que usar dinheiro para pagá-las.

(4) Generalizando: quanto mais dinheiro se tem, mais fácil ganhar mais dinheiro; quanto menos, mais impossível. Quanto mais se tem, mas perto se chega da saúde, do saber, da diversão; quanto menos, mais se aproximam das enfermidades, da ignorância... 

O pobre, no entanto, tem uma virtude muito atraente, que a todos atrai: fazer, reparar, limpar e arrumar todas as coisas na superfície da Terra* e, extraindo o máximo do mínimo (ou “tirando leite da pedra”), criar a alegria, o canto, a dança, todas as artes e diversões. Por isso todos o querem, e precisam dele, até os que só querem ganhar dinheiro e para isto metem a mão até no dinheiro público, mas não precisam se preocupar em cuidar deles porque a quantidade de pobres não para de aumentar.

*O povo de um país são as pessoas que planejam e constroem todas casas, edificações e logradouros; fazem, consertam, limpam e arrumam no lugar todos aparelhos, móveis, utensílios, objetos e peças que estão nas casas, edificações e logradouros; plantam, cultivam, colhem e manejam todos alimentos que comemos; fabricam e reparam os veículos de transporte; todos os condutores dos transportes coletivos públicos; atendem todas nossas compras e perguntas nas lojas, drogarias, postos de gasolina, repartições públicas e demais pontos de atendimento; tratam de nossa saúde e nossas enfermidades; guardam instruem nossa segurança em lugares e logradouros públicos;  professores e estudantes que ensinam e aprendem todo o conhecimento produzido, gráficos e jornalistas que escrevem, editam, manipulam, comentam e divulgam todos os atos e fatos divulgados nos veículos de comunicação, e todos atletas e artistas.

Mas esses que só ganham dinheiro não pensam nem em si mesmos, nem no que põem seu dinheiro, e por isso todos seus processos de produção causam danos e destroem a natureza, o planeta, esta casa em que vivemos. Eles não tem sequer consciência de que nesta casa também eles vivem, e de que, portanto, estão destruindo a própria casa —o que significa que são suicidas inconscientes. E por isso, por serem homicidas, genocidas —o processo de conquista é homicida e genocida— e suicidas —a destruição do planeta é ato suicida—, os donos-do-mundo não podem ser caciques.

Monday, January 29, 2024

ESPIRITUALIDADE E RELIGIÃO NADA TÊM EM COMUM ! 


 Espiritualidade e Religião Nada Têm em Comum ! 

A Igreja Católica Apostólica Romana foi convidada —ao menos é o que se diz, embora deva ter havido alguma maquinação entre  as autoridades romanas e os novos cortesãos— para a Corte romana prometendo cuidar da alma do ser humano e dos pobres. Mas tanto ela quanto as demais religiões reformadoras que dela derivaram mil anos depois, embora apresentem-se como a verdade natural e como a espiritualidade do ser humano, são de fato dogmas de fé, ou seja, prisões de almas. Em vez de explicarem a evolução e trabalharem a favor das características naturais do ser humano, apenas impuseram dogmas de fé e um código disciplinar que trouxe para os humanos muitas limitações, proibições, culpas, pagamentos de dívidas psicológicas alheias e punições em nome de uma ficção chamada Deus, que representa os donos-do-mundo. 

O rio corre pelo chão,

Quando esquenta, vira vapor, sobe pro céu,

No céu, esfria de novo e despenca feito chuva.

Não há ninguém lá em cima que mande chover ou fazer sol.

O vapor esfria, vira água de novo e cai de volta no chão. (bis)

A chuva é o mar, é o rio que evapora,

Mas parece, não é?, que é o céu que chora.

Se vivemos enganados há tanto tempo, deixo uma deixa:

                        não existe ninguém lá em cima pra ouvir a nossa queixa.

Espiritualidade é uma sensação, um sentimento, uma relação pessoal, grupal, sensorial ou racional ou ambas, meditativa, contemplativa, consciente, inconsciente, de identidade, semelhança, afinidade, parceria, alegria, admiração, estranheza, esquisitice, dúvida, repulsa, antagonismo, tristeza, medo, horror e tantas outras sensações em relação a outra pessoa, grupo de pessoas, a um ou vários animais, às partes do corpo de uma ou muitas pessoas, vegetais, com os momentos especiais da vida, as recordações, os eventos da natureza como o ar, a brisa, a ventania, a neve, a nevasca, a gota, a água, o rio, o riacho, o oceano, a cachoeira, o pingo de chuva, o chuvisco, a garoa, o temporal, a moita, o capim, a relva, o mato, o matagal, as folhas, as folhas secas, as estações do ano, a flor, a árvore, o tronco, os galhos, o sol, o céu, a lua, o luar, um lugar, uma cidade, uma saudade, um canto, uma rua, uma esquina da cidade, uma marquise, uma calçada, um cartaz, uma fotografia, o calor, o frio, a dor, a morte, a vida, a cor, qualquer fato, as cores e tantos outros seres e fenômenos da natureza e todas as suas imagens e sons.

No plano físico, neurológico, cada sensação dessas causa em cada ser humano, dependendo da história e do trajeto cultural de cada um, uma específica reação química que estabelece nosso estado de humor: o que sente nosso corpo, bem estar ou mal estar, um estado definido ou indefinido, seguro ou inseguro, alegria e atração ou dor e repulsa.

Assim o primitivo se relacionava com a natureza.

Admirava o sol e a água mansos que fazem germinar no solo as sementes, as plantas, o fruto, o alimento, e dava-lhes oferendas de agradecimento. Temia o sol e a água bravos que ressecam, inundam e matam o solo, e fazia-lhe oferendas de súplica. E assim por diante.

E suplicavam também com palavras. Os pedidos espontâneos ao vento, ao sol, à lua, às tempestades, e aos demais fenômenos da Natureza, a Igreja Católica escondeu,  apropriou-se deles, tornou-os obrigatórios com os nomes  “prece”, “oração” ou “reza”, como se fossem inédita exclusividade de seu convenientemente inventado Deus.

Para tentar explicar o que não sabe, o ser humano cria seres e coisas à sua imagem e a serviço de sua necessidade, e assim inventou que cada fenômeno natural era enviado por uma divindade; muitos eram os fenômenos, muitas eram as divindades, de todos os sexos. O ser humano vivia em tribos, todos os adultos relacionavam-se sexualmente entre si, todos os sexos considerados.

Desta dualidade de um mesmo fenômeno da Natureza —a chuva, por exemplo, dependendo da intensidade, fertiliza e destrói—  a Igreja Católica inventou o aterrorizante Bem e Mal.                

 Milênios depois, precisou ocultar a reprodução instintiva dos animais nos primórdios, quando o cio da fêmea atraía o macho e a cópula ocorria. Inventou uma Virgem Maria e uma relação sexual sublime entre ela e um Anjo, da qual nasceu o Messias. O ser humano não teria mais sexualidade. A reprodução humana seria dali em diante sem cio, sem desejo sexual. A união entre homem e mulher, o “sacramento” matrimônio, seria eterna, “para todo o sempre”. Só  haveria sexo para fins reprodutórios. Tudo o mais seria “indecência”, “pouca vergonha” entre os seres humanos.

Longe dali as tribos vieram prolifererando, a proliferação expandiu os territórios ocupados, a expansão trouxe a separação de pessoas e recursos; a separação começou a dividir as tribos em famílias. O maior distanciamento exigiu a subdivisão e coordenação dos estoques que precisavam estar à disposição; a subdivisão exigiu a coordenação entre os estoques parciais. A coordenação dos estoques começou a dar origem ao Estado.

 Os estoques separados exigiram a responsabilização de pessoas para geri-los; os responsáveis eram escolhidos segundo sua competência e experiência. Os estoques foram se particularizando naturalmente.

A população e os territórios continuaram expandindo; a distância cada vez maior entre os responsáveis pelos recursos e suas porções da tribo foi exigindo deles decisões cada vez mais pessoais; a distância dos demais responsáveis dificultava e impedia a decisão em consenso. Cada responsável começou a ter que decidir sozinho, o responsável isolado era o curador dos recursos sob sua responsabilidade. Começava a nascer a propriedade privada. 

Há pouco mais de dois mil anos surgiu em Jesusalém, na Palestina, então ocupada pelo Estado de Roma, um grupo de pessoas que percebeu e deu especial atenção à existência de pessoas pobres e à desatenção com que eram tratadas. O líder se chamava Jesus Cristo, o grupo tinha uns doze membros.

Havia na cidade outro movimento de resistência na época, os zelotes, palestinos que conspiravam para retomar o poder aos romanos através da luta armada. Sondado por eles para ingressar no grupo, Cristo recusara-se a aderir alegando que seu movimento não era armado, “não era desse mundo”.

Na época não existia “economia” como objeto de estudo. Sabia-se apenas da atuação dos seres humanos em relação aos outros seres humanos.

Para Cristo, a maneira de dar a apregoada atenção aos pobres era pedir que os ricos do lugar fossem generosos, distribuissem suas riquezas, e atentassem para os problemas de saúde dos pobres. Seu movimento era idealizado —e o Cristianismo assim é até hoje— baseado na sua capacidade pessoal de observar e pensar sobre as deficiências e insuficiências da sociedade que presenciava e na qual vivia. Deve ele ter pensado, como muitos, que os seres humanos eram todos iguais, e que a intelectualidade dele, Cristo, era comum a todos. Como o materialismo dialético de Marx ainda não existia, não fazia ele idéia que o móvel do ser humano é a necessidade, não os ideais — os ideais podem até existir, mas, se não corresponderem a necessidades objetivas, serão sobrepostos, não irão adiante. Os seres humanos vivem o instinto de sobrevivência, acomodam-se na estrutura que lhes é oferecida para viver; se têm ideais, estes limitam-se, por necessidade de firmar-se e ascender socialmente, a destacar-se no interior da sociedade dominante.

Se Cristo, indivíduo inteligente, talvez (em relação à Antiguidade) pioneiro na atenção aos pobres, conhecesse Marx, hoje nosso pé no chão, sem dúvida a humanidade teria se beneficiado muito já a dois mil anos atrás.

Mas os ensinamentos gregos especulavam sobre a existência de um espaço supraterreno, onde haveria um deus-criador, e o judaísmo, que também se baseava em um deus único, profetizara para a época o nascimento de um “novo Messias”, etiqueta atribuída a Cristo e renovada em suas andanças e conversas precoces. Mais adiante na vida, aos 33 anos, quando já seguia avançado o movimento hoje conhecido como Cristianismo, ele, Cristo, confuso quanto a sua possível ligação com o deus-criador, foi meditar no deserto a ver se lograva algum contato com seu deus-pai. Talvez influenciado por esse estado mental místico e misticista e pela tradição idealizadora judaica, que criara, vivia e professava uma visão mística do destino do povo judeu, Cristo criou para si mesmo uma idealização e dali em diante passou a denominar-se “o filho de deus feito homem”.

A visão mística do próprio destino deve ter sido uma habitual decisão política necessária ao povo judeu, que, depois de expulso de sua terra natal, nunca mais voltara a viver nela ou noutra que viesse a chamar de sua. O povo judeu sempre vivera, e viveria no futuro, em nações alheias; para manter-se unido, portanto, era preciso muita tenacidade e coesão. A atuação dos judeus, cujo judaísmo não acreditava em anjos, ressurreição dos corpos, imortalidade da alma e tais bobas, mas convenientes, fantasias católicas, é portanto política, cuja plataforma tinha a missão nuclear de unir todos os seres humanos e conduzi-los, oferecendo-se como exemplo, a essa união.

Mas o Cristianismo teve contestadores entre seus apóstolos: uma coisa era liderar um movimento em prol dos pobres, outra, um absurdo, era chamar-se filho de deus.    

Ao ouvirem falar do tal reino dos céus, onde reinava outro rei que não um romano, os romanos sentiram-se ameaçados e foram tomar satisfações aos judeus. Em vez de explicar que seu movimento era místico, coisa da alma humana, Cristo, provavelmente por ter confundido sua catarse com a realidade, insistiu na existência do reino dos céus e por isso, por iniciativa dos romanos, foi condenado pela casta rica dos judeus, os saduceus, para não porem em risco os bons negócios da elite judaica com seus senhores romanos [A eterna cumplicidade entre o colonizador e a burguesia dominante de um país.] . Os judeus não tinham a crucificação em seu cardápio de execuções, Cristo foi crucificado pelos romanos.

O Cristianismo expandiu-se na região. Por volta do ano 400 d.C., Roma estava falida e endividada. Os campos não produziam, os camponeses reivindicavam junto às autoridades romanas, em nome de suas muitas divindades, o atendimento de suas necessidades.

A nova religião apresentava a conveniência de oferecer uma única explicação para a origem do mundo, criado por um único deus que exigia “ser amado sobre todas as coisas” (uma cláusula tácita exigia também o temor a Deus) e, ainda por cima, que seus fiéis renunciassem aos bens terrenos para merecer a vida eterna no paraíso. Para Roma aquela era a solução para todos os seus problemas, e o Estado Romano não hesitou em institui-la como religião oficial. 

Vamos lembrar mais uma vez que também no Egito Antigo, em ca. de 1580 aC, com o mesmo objetivo político, Amenófis IV também promoveu a unificação de todos os deuses, unificação representada pelo disco solar – Aton. 

A nova religião, tendo descartado toda a evolução do ser humano, que na época sequer era objeto de estudo, desconsiderando as características naturais do ser humano inventou Deus e o impôs à humanidade como criador do firmamento e da natureza. E um  homem e uma mulher, um casal, como origem do ser humano. E impôs um código de conduta, um conjunto de dogmas de fé que, se desobedecidos, seriam considerados “pecados” e, como tal, punidos. Quando a nova religião passou a oficial, os “pecados” dos fiéis passaram a ser crimes contra o Estado.

Pecados eram as transgressões ao código de conduta religioso, que eram punidas com castigo físico, prisão e morte. Dessa punição, mais especificamente do medo de ser punido, nasceram todos os preconceitos ainda hoje vigentes no comportamento do ser humano.

A punição individual é marca de nosso sistema judiciário contemporâneo. Como tudo o mais na ideologia dominante, é uma máscara que faz grande alarde mas não conduz à causa e muito menos à solução dos problemas, máscara que têm origem de fato na escassez disputada pela enorme maioria dos seres humanos, porque a fartura pertence a um miúdo punhado deles. Punindo o indivíduo, a sociedade dá o problema por encerrado; o indivíduo é preso, mas a estrutura da sociedade não é atacada, o problema não é sequer abordado, e muito menos solucionado.

A logomarca do Cristianismo seguiu sendo divulgada: a imagem de Cristo exausto carregando a cruz, filetes de sangue escorrendo no rosto mostrando dor, uma coroa de espinhos na cabeça, apanhando dos soldados romanos e dos circunstantes que o acompanhavam recriminando e zombando de sua pretensão de ser rei. E o retrato de Cristo impresso em sangue num pano.

Ele não renegara o reino dos céus, não abrira mão de ser o filho de deus, e,  como Roma não admitia a existência de outro rei, foi condenado e crucificado. Para nos salvar, impôs a Igreja Católica Apostólica Romana. Nos salvar por quê? Porque, se tivesse negado “seu” reino do céu, o ser humano devoto e obediente não teria para onde ir após a morte, outra   ficção —a vida eterna, um prêmio de compensação para todo aquele que obedecesse aos mandamentos—  que  jamais existiria, e a Igreja Católica tampouco prosseguiria.

A Igreja Católica Apostólica Romana acabava de aplicar o primeiro “conto do vigário na humanidade da época, que dali em diante aplicaria em todo ser. Sim, porque, a bem da verdade, seus papas, cardeais, bispos, padres, sacristãos e prepostos são, com suas roupas exóticas e sofisticadas, meros vendedores de um “Plano Moradia no Aém”. A Igreja Católica sagrou-se “o grande espertalhão” de nossa civilização, porque é hoje, século 21, nada mais nada menos, a maior proprietária de imóveis neste nosso planeta — imóveis terrenos, precisamente aqueles aos quais ela exige que seus fiéis renunciem.

Segundo sua própria doutrina, entretanto, se renunciar aos bens terrenos era necessário para ter acesso à vida eterna no Céu, ela própria, a Igreja Católica... iria para o Inferno?

Iniciava-se a “Era do Espertalho”, como já dito na Contradição 11.

De seu objetivo original, dar atenção aos pobres, oficializado por Roma e continuado com o nome de Igreja Católica Apostólica Romana, restou para os pobres apenas a esperança de redenção do sofrimento renunciando aos bens terrenos em vida e pagando os pecados do mundo para auferir a vida eterna após a morte. De concreto, porém, além de muita reza[1], a Igreja Católica —nem as reformas protestantes mais tarde—  fez e faz pouquíssimo pelos pobres e enfermos proporcionalmente ao imenso e crescente quorum de pobres no mundo e ao imenso patrimônio imobiliário e fundiário que ela capitalizou.

Por quê a igreja não cumpriu seu objetivo original? Muito simples: porque ela agiu como de fato era, uma empresa dona de latifúndios, feudos concedidos pelas cortes. Tornara-se cortesã, elite dominante, a partir do instante em que fora adotada por Roma como religião oficial. Os fundos que arrecadou até começar a emprestar a juros altos para os castelos e enriquecer definitivamente, financiando as guerras feudais de retaliação e de conquistas territoriais, provem da renda de suas terras arrendadas a colonos a altíssimas taxas, do dízimo cobrado a todos os católicos, da venda de indulgências a soberanos, nobres, ricos mercadores e a qualquer um que por elas pagasse vultosa quantia e das famílias dos papas, que eram riquíssimas. Papas, cardeais e bispos frequentavam os castelos, eram membros assíduos das cortes e participavam de suas decisões políticas, mandando e desmandando.

As religiões enganam o ser humano quando se autoproclamam ser a espiritualidade do ser. Suas proibições são dogmas de fé, mera repressão às características naturais do ser humano, são um reles código de conduta, uma adequação às determinações dos organizadores do mundo, homens ricos, estabelecidos no mundo, e superiores hierárquicos. Causam ao vivente danos tão irreversíveis —como as carências de afirmação decorrentes do culto cada vez mais forte ao individualismo necessário à manutenção do capitalismo, à obediência e culto ao modelo de indivíduo rico e poderoso— que foi preciso inventar uma ciência, a Psicologia, para tentar desemaranhar as neuroses humanas que foram aumentando na proporção direta do aumento do aperto nas cidades e da impossibilidade de as determinações civis e eclesiásticas serem cumpridas na prática da vida... Porque a realidade humana não se motiva em idealizações —apesar da propagada insistir nelas para desviar o ser humano da razão e deixá-lo à deriva das manobras dominantes— mas na mobilização para satisfazer as necessidades.

Antônio Maria e Fernando Lobo descreveram com maestria, na canção “Ninguém me ama”, essa carência do ser humano que se identifica com os valores dominantes. 

"Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama de “meu amor”.

A vida passa, e eu sem ninguém, e quem me abraça não me quer bem.

Vim pela noite tão longa de fracasso em fracasso,

E hoje descrente de tudo me resta o cansaço,

Cansaço da vida, cansaço de mim, velhice chegando,

E eu chegando ao fim."

 

As igrejas são empresas privadas, e por isso dão amparo e refúgio à ampla e irrestrita atuação da ideologia dominante capitalista. A Igreja Católica Apostólica Romana foi e é, como já dito, a maior empresa imobiliária do mundo, motivo por que, também contra os partidários da propriedade coletiva dos meios de produção, os comunistas, ela criou um preconceito específico, acusando-os de “não terem Deus nem amor no coração”.

E são sempre oportunistas. Recentemente, em 2015, quando o Estados Unidos, depois de mais de 50 anos de bloqueio econômico contra Cuba, reatou relações comerciais e civis com a ilha, a Igreja Católica tratou de ir lá às pressas, em viagem notoriamente autopromocional, para não perder seu “mercado”, o “povo pobre” do lugar, objetivo social que lhe rende isenção de todos os impostos, fartos donativos do setor privado e perpétua capitalização, em troca de umas obrinhas sociais, umas migalhas para os pobres.



1 Há um país na África, não me lembro qual, que, nos momentos de dificuldades, em vez  em rezar manda matar passarinhos. Assim, para resolver nossos problemas, em oposição a pensar em conjunto temos duas outras possibilidades, rezar e matar passarinhos.



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